Carta aberta de um menino que já existiu
Lembram-se de mim, o Luisinho? Pois sou eu mesmo. Quando voltaremos a brincar juntos? Tenho tantas saudades das nossas brincadeiras, jogar à bola, andar de bicicleta! … Vocês não têm? Que pena morarmos tão longe! Espero que estejam bem e felizes junto dos vossos papás… Resolvi escrever-vos para vos contar da minha nova experiência: os meus papás meteram-me numa escolinha para gente pequenina como nós. Chama-se O Ninho dos Passarinhos. A princípio estranhei muito; estava habituado a ficar com a minha avó e gostava. Agora na escola são duas senhoras que tomam conta de nós e aquilo é uma seca. Elas são simpáticas e esforçam-se por fazer tudo bem e nos agradar, mas não sei… Muitas crianças, como eu, ficavam a chorar quando os papás as deixavam na salinha do infantário. Ninguém parece perceber que nós gostamos de inventar as nossas brincadeiras ao sabor do momento. Não gostamos de fazer coisas orientadas por outras pessoas, ainda por cima estranhas. E os meus papás também não entendem isso e deixam-me lá ficar e eu fico muito triste. Já não me apetece comer nem tomar banho quando chego a casa e faço birras e choro por tudo e por nada. Queria de volta a minha liberdade. Ao fim de dois meses eu continuava a não gostar muito daquilo mas os meus papás diziam que tinha de ser e eu tive de me aguentar e lá me fui habituando. Eu sei que sou demasiado pequenino para entender o mundo dos adultos, mas não seriam eles que deviam entender o nosso já que sabem mais? A minha mamã deixa-me por tantas horas na idade em que mais preciso dela… Se eu ao menos tivesse um irmão ou morasse pertinho de vocês…Vocês têm a sorte de serem duas. Sinto uma revolta, um desagrado pela vida, como se ninguém gostasse de mim. Que mundo este! Eu já sei que um dia vou ter de ir para uma escola aprender a ler, a escrever e a contar, mas isso é só quando for maiorzinho e nessa altura irei gostar com certeza. Eu queria ser grande para saber tudo e não ter quem mandasse em mim. Mais um mês passou e agora já vou menos-mal. Já tenho amigos e amigas lá na escolinha. Damos beijinhos quando chegamos e quando partimos. Falava pouco e agora falo muito. Começo a gostar de algumas actividades e isso distrai-me. Além das brincadeiras colectivas em que participamos, gosto especialmente de fazer pinturas. Sujo-me de tinta mas ninguém se importa e eu também não. Tenho um bibe para proteger a roupa. Voltei a comer bem, não recuso tomar banho e faço menos birras. Contei-vos a minha experiência para, se passarem por ela, saberem o que vos espera. Peçam aos vossos papás para nos juntar de novo que eu peço aos meus, nem que seja só por um dia, para brincarmos e matarmos saudades. Até lá muitos beijinhos para as duas. Gosto muito de vocês. Luisinho.
5 Comments:
que carta tão linda e original...
amanha os nossos tesouros fazem 23 meses...estão uns crescidos.
beijinhos para ti e para as estrelinhas e bom fim de semana
As estrelinhas estão quase com dois aninhos... que lindas!
Bjos
Tão lindo amiga!!!
Um grande beijinho e estamos quase a estar juntas - vizinha :)))!!!
beijos kida
yami
Eu conheço esse menino esquecido num tempo sem fim, perdido num mundo que não era o seu.
Lembro-me de o ter visto por aí à deriva num tempo em que ser criança era a pior coisa do mundo.
Lembro-me disso e de muitas outras coisas...
Mas hoje as crianças são mais respeitadas, apesar de tudo, e as Estrelinhas até têm um tio Luis que, de longe, torce para que elas cresçam felizes. Não só elas, mas todas as crianças do mundo...
Beijinhos para a Estrela mais as suas duas Estrelinhas.
Luis
As estrelinhas lembram-se perfeitamento do seu amiguinho Luisinho, que apesar de estar longe, não deixa de estar constantemente presente.Adoram jogar à bola e andar de bicicleta com ele e até calçaram as suas sapatilhas.Foi muito bom estar presente, ver o brilho nos olhos das três estrelinhas.
Beijinhos muitos para as três estrelinhas mais lindas do mundo.
vovó Isaura
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