Estrelinhas sem Luz
Eram duas Estrelinhas luminosas e sorridentes que cintilavam alegres pelo céu constelado.
De mãos dadas, viviam num mundo recheado de luz e eram tão iguais que as confundiam e elas riam do engano das pessoas.
Uma das estrelinhas tinha um sonho secreto: descer à terra e visitar as outras estrelinhas sem luz… e o sonho realizou-se.
Um dia resolveu contar o sonho à irmã que sorriu ao achar a ideia genial.
─ Mana, somos pequeninas, como vamos chegar até lá?
A outra, que encontrava quase sempre solução para tudo, disse:
─ Pensa que eu também vou pensar!
E pensaram e pensaram…
Levaram dias a magicar em como realizar aquele sonho secreto, até que um dia o céu estava tão limpo, tão transparente, que elas desenhavam belas imagens no céu e uma delas viu a Estrela da Aurora…
─ Achei! ─ gritou para a irmã.
─ O que achaste? ─ perguntou a outra que estava a terminar o seu desenho.
─ Vamos pedir à Estrela da Manhã que nos transporte e depois a Lua traz-nos de volta.
─ Muito bem, mana! ─ apoiou eufórica.
A Estrela da Manhã, acordou a terra num banho de luz clara e límpida.
─ Vamos, dêem as mãos! ─ disse a Estrela da Manhã.
E elas desceram lentamente, olhando para tudo com muito interesse e memorizando o que viam e ouviam para contar aos pais de volta e, principalmente, ao tio que gostava tanto das estrelinhas apagadas.
Era muito cedo quando entraram numa casa e, vendo uma mãe estrela a falar muito alto, sentiram o coração apertado quando repararam numa estrelinha pequenina a chorar.
─ Não vale a pena chorares, bebe o leite, depois veste-te, estou sem paciência! ─ virou costas e foi para a varanda fumar.
As Estrelinhas acenaram com a cabeça e disseram: “Não… não!..”, e saíram dali rapidamente.
Entraram noutra e fecharam os olhitos, ao depararem com uma cena muito triste:
Os pais de uma estrelinha puxavam-na pelos braços.
─ Ela vai comigo! ─ dizia o pai.
─ Nada disso, ela fica comigo! ─ retorquia a mãe.
Durante o dia entraram em várias casas e em quase todas notaram a falta de amor, de tempo e de paciência para as estrelinhas mais pequeninas.
A noite começou a cair e era a hora de regressar, mas antes, ainda passaram por uma outra casa e sorriram ao verem uma menina, no quarto, a descobrir o seu corpinho.
A porta do quarto abriu-se, esconderam-se rápido, e ouviram a mãe gritar com ela:
─ O que estás tu a fazer, tira daí a mão, é nojento!
As Estrelinhas saíram do esconderijo, trocaram olhares e voltaram a sorrir. Também elas iam descobrindo o seu corpo aos poucos.
─ Vamos embora mana, já não aguento mais! ─ pediu a chorar ─ Nem ao menos uma estrelinha se vê a brilhar. Todos os pais lhes abafam a luz.
─ Tens razão, mas que podemos fazer? Tenhamos calma, ─ acrescentou numa reflexão de esperança, para dar alento à irmã ─ afinal há estrelinhas que brilham, as que estão perto de nós. Vamos só visitar mais uma, mana, e depois vamos embora.
E lá foram elas serpenteando com a sua luzinha.
Entraram numa casa, onde viram uma mãe muito atenta a ver a televisão. De repente, entrou uma estrelinha de pijama com um livro na mão.
─ Mãezinha, vens contar-me a historinha para adormecer?
─ Ora filha, vai-te deitar que eu daqui a pouco vou lá.
E a estrelinha voltou ao quarto com o livro debaixo do braço. Deitou-se e começou a falar com o amiguinho imaginário. A mãe continuou atenta à televisão.
─ Vamos, a lua já nos chama!
Durante o percurso foram a falar sobre o que tinham visto e, por fim, decidiram contar ao tio.
De mãos dadas e com a esperança acesa luziam de novo no seu lugar.
2 Comments:
Então decidiram contar ao tio...
O que irão elas contar?
Jinhos do tio Luís.
Que historia linda Dulce...parabéns... faz-nos pensar... e que as tuas estrelinhas continuem com esse sorriso lindo! ;) eheheheh
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