
28 novembro 2008
10 novembro 2008
Trabalhona

─ Mamã, tu és trabalhona!
Como devem calcular, fiquei surpreendidíssima quando a minha Estrelinha B, um dia destes, me saiu com aquela exclamação.
De início entendi «trapalhona», mas, antes de tomar uma atitude, mantive a calma e procurei esclarecer o motivo de ela me chamar trapalhona, uma vez que não costumo usar de mentiras para as convencer de qualquer coisa. Por feitio e por princípio: acho que isso seria um mau precedente para a confiança futura e elas acabam por descobrir a verdade, mais cedo ou mais tarde.
De repente, o que me acudiu foi que ela tinha aprendido a palavra nova na escola e que não lhe conhecia muito bem o significado, por isso não poderia ser ofensiva a intenção, mas apenas ensaio e aprendizagem.
Ora, quando lhe perguntei porque me chamava trapalhona, ela respondeu:
─ Não é trapalhona é trabalhona. Tu fazes tudo aqui em casa e ainda trabalhas com a L (a minha colega de emprego) e tens pouco tempo para brincar connosco.
Ainda por cima, inventou uma palavra que não existe.
Imaginem a cena, eu de queixos caídos pela intervenção observadora da minha filhota que ainda nem tem quatro anos, mas consegui dizer:
─ Pois é, B. e vocês ajudam a mãe?
─ Ajudamos! ─ foi a resposta imediata das duas.
As minhas Estrelinhas são surpreendentes e estão a atravessar aquela fase em que querem saber tudo.
Tenho a sensação de que estou a aprender mais com elas do que elas comigo.
Depois fiquei a pensar: “Se eu tivesse reagido bruscamente pela suposta ofensa, teria sido péssimo e não sei como me perdoaria.”
Nunca devemos ser injustos com as crianças; elas têm o direito de ser ouvidas e esclarecidas se disserem algo de errado, porque, afinal, nada é maldade, mas apenas aprendizagem por tentativa e erro, e é a fase mais bela da vida.
Não a podemos perder e muito menos estragar com intervenções infelizes, tomadas intempestivamente.”